segunda-feira, 18 de abril de 2005

Inter rail II

A nossa missão na Alemanha estava concluída, regressamos a Paris a onde chegamos ao fim da tarde quase a cair a noite.
Regressamos à mesma pensão com a esperança de recuperar um canivete suíço que lá ficou por esquecimento, é claro que ninguém encontrou o canivete que lá deixamos !!! O indivíduo que nos atendeu na recepção, por detrás de uma divisória de vidro, com pinta de marroquino de parcas palavras apenas conhecia a palavra ‘non’, pelo menos no que se referia à ‘knife’ ‘... avec le mot renault...’.
Pagámos a estadia de uma noite, adiantado, e é para quem quiser, e saímos para ver o Pigalle à noite.
Para quem é estranho tudo é estranho, saber o que são movimentações normais ou anormais é uma dúvida constante.
Por alguma razão o passeio foi curto e regressamos a vale de lençóis, o cansaço era tal que em poucos minutos já era dia...
Objectivo: Milão
Através de montanhas verdes, vales profundos e túneis atravessámos a Suíça.
Aquelas encostas com construções tradicionais em madeira pareciam demasiado perfeitas para serem verdadeiras. Mais parecia que estávamos dentro de uma bolha a passear pelo país das maravilhas.
O choque surge depois de percorrermos durante largos, imensos minutos, o túnel final e entramos em Itália.
A degradação das casas, a desarrumação urbanística junto à fronteira oferece uma imagem pouco convidativa e nada representativa daquilo que supostamente nos aguardaria.
Por fim entramos na gare.
É fim de semana, está a anoitecer, precisamos de cambiar Marcos antes de mais nada.
O mundial de futebol tinha terminado há pouco tempo e a gare ainda estava inundada de cartazes informativos, muitos deles com indicações em vários idiomas: “cuidado com os ladrões”, “atenção aos carteiristas”, “cuide da sua bagagem”.
Tudo aquilo inspirava um ambiente de descontracção de cortar à faca.
Informam-nos que há um guichet que faz câmbio.
Na minha mochila pequena de serviço trago a câmara fotográfica e a bolsa de trazer à cintura (porque estava a romper-se o cinto de suporte) onde trago a maior parte do dinheiro que tínhamos connosco. A caminho do local do câmbio comento com a Né que é urgente fazermos a redistribuição do pecúlio pelo que tínhamos que ir a um sanitário para não alertar olhares indiscretos.
O local de câmbio era já ali ao lado.
Pousamos as duas mochilas junto a um dos pilares de dimensões brutais que componham um espaço amplo.
Dirigi-me à fila que distanciava uns cinco metros do pilar. Discretamente, pelo menos procurei sê-lo, retirei cem Marcos da mochilita; fui à beira da Né pedir-lhe a calculadora para fazer contas; regressei novamente á fila, fiz o cálculo do câmbio e meti a calculadora na mochila.
Sou atendido e meto as Liras no bolso.
Abeiro-me da Né, ajudo-a a colocar a mochila, pouso a minha mochila pequena junto aos pés para libertar os braços e carrego a minha mochila, levo a mão à mochila pequena... NADA !
O chão fugiu-me debaixo dos pés, num sopro de vento tínhamos acabado de ser assaltados.