quinta-feira, 4 de março de 2004

Por que eu mereço...

Dizem que uma mulher nunca esquece do primeiro soutien.
Não posso dizer se esta máxima é verdadeira ou se é apenas fruto de uma campanha publicitária bem sucedida, porque eu sempre fui muito moleca ao mesmo tempo que muito precoce e receio não ter gravado esta cena.
Mas trago na memória outra cena, a de uma campanha publicitária que vi pela primeira vez quando eu tinha uns 14, 15 anos.
Na Tv, uma mulher balançando longos cabelos vermelhos, me dizia numa voz dublada e muito feminina: "Imédia da L'oreal. Porque eu mereço."

Sabe lá o que se passa na cabeça de uma adolescente quando vê uma mulher feita, com cara de resolvida, com jeito de quem sabe o que quer e ao mesmo tempo transbordando feminilidade - que nem estava nos cabelos, mas na atitude - dizendo que era merecedora do que havia de melhor, que podia ser uma tinta de cabelo, uma sandália romana, uma viagem à Austrália ou uma pétala de rosa.
O objeto não importa muito, desde que nele transpire o seu desejo.

Porque eu mereço.
Eu pinto os cabelos e esta frase me acompanha desde aqueles dias.
Eu lembro dela quando faço uma pausa no meio da tarde prá tomar um café com uma amiga ou prá receber um telefonema sem pressa. Quando deixo um trabalho que era de ontem prá amanhã e dou atenção pra um amigo.
Quando vou pagar uma peça de roupa escandalosamente cara, quando saboreio uma guloseima absurdamente calórica, quando vou andar na rua sem horário, quando largo tudo prá namorar ou prá ver um filme na TV.

E quando as coisas não andam tão bem, quando eu não tenho espaço, tempo, dinheiro ou qualquer coisa dessas que a gente inventa prá distrair a vida do que é importante, eu pego minha vocação prá ser feliz, jogo dentro da bolsa e vou atrás de uma brecha qualquer prá fazer nada - ou muito - que me dê prazer.
Eu não consigo controlar, é instintivo, é maior que eu.
Aquela mulher da L'oreal sacode a cabeleira vermelha diante de mim e eu preciso ir. Porque eu mereço.

Foi essa a minha explicação científica para os dias que eu só faço o que me da na telha...