quarta-feira, 9 de março de 2005

Encontro imediato

Acabo de dobrar a esquina e vejo-a a entrar no nº 27 da avenida. Acelero o passo para segurar a porta antes que fique presa no trinco eléctrico e evitar o incómodo diário de enfiar a chave.
Passos firmes e compassados a marcar os segundos do relógio como se aquela manhã tivesse sido excepcionalmente cansativa. Botins pretos de tacão delgado, gabardina acolchoada preta que permitia espreitar um palmo das calças cor de vinho. Os cabelos castanhos longos ondulados soltos cobriam os ombros.
Dois lances de escada numa perseguição à distância de um degrau à velocidade do tic-tac separaram o rés-do-chão do 1.º andar.
Não a conheço. Como é que ainda não a tinha visto ali na residência?
Quem será o sortudo? Tomara que fique no primeiro (a residência feminina...) Terá sido ela a abrir ou abriram-lhe a porta? Residirá ali ou vem visitar alguém?
Naqueles dois passos de satisfação por vê-la entrar no corredor e virar à esquerda assaltou-me a tentação de prolongar aquele encalço até ao seu quarto mas as pernas seguiram a rota habitual em direcção ao segundo andar; os olhos continuaram colados naqueles cabelos castanhos suplicando que mostrassem o rosto.
Alguma vez ela olharia para trás ???... Mas eu recuei... Deslizei em rápidas pegadas de gato até a porta do corredor, mas antes que a visse entrar ouvi a porta bater.
Porta 106 ! Vi-a passar o 105 e não teve tempo de chegar ao 107...
Aquele quarto é o da São... é lá que vou-lhe preparar uma espera...
Passados quatros anos estava eu a esperá-la no altar.